Dicas de Leitura

Leituras para conhecer o escritor Lima Barreto

Essa semana foi o aniversário do escritor Lima Barreto. Por isso, nada mais justo que indicarmos obras deste grande autor. A primeira leitura que indicamos, é Clara dos anjos, em quadrinhos, ilustrado por Lelis, Helen Nakao. Último romance escrito por Lima Barreto, tendo sido publicado postumamente, Clara dos Anjos é também o livro que condensa grande parte das preocupações que rondaram a obra do autor. Lá estão o subúrbio carioca, as questões raciais, as diferenças de classe e a modernização do Rio de Janeiro no início do século XX. Clara dos Anjos é uma mulata pobre do subúrbio, filha do carteiro João dos Anjos e de Engrácia, uma mulher “sedentária e caseira”.

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Por meio de amigos do pai, Clara conhece Cassi Jones, malandro de família mais abastada e notório galanteador. A despeito dos alertas de seu padrinho – que será brutalmente assassinado -, Clara inicia uma relação com Cassi. A partir desse encontro fadado à tragédia, Lima coloca o leitor dentro de um jogo de tensões de classe, sedução e preconceito. Ao mesmo tempo, traça um rico e minucioso panorama do cotidiano nos subúrbios do Rio, com suas tristezas e mazelas, mas também como local onde a vida da cidade acontece. Nesta adaptação para os quadrinhos, os subúrbios saltam literalmente à vida, no magistral traço de Lelis. Apoiado em fotografias e gravuras, Lelis recriou de maneira fiel o ambiente de Clara dos Anjos, além de emprestar agilidade e drama à história. E Wander Antunes, que adaptou o texto de Lima Barreto, soube captar e condensar a intensidade da trama, sem perder o que ela tem de mais forte.

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Na sequencia indicamos o Triste fim de Policarpo Quaresma, surgido em forma de folhetim em 1911 e publicado em livro em 1915. Pertence ao pré-modernismo, período de transição entre a tradição literária do século XIX e o modernismo, que foi sua ruptura. Os escritores do pré-modernismo (Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato, entre outros) anunciam a grande temática que ocupará a primeira geração modernista: a redescoberta dos valores brasileiros, expressa por um nacionalismo que retoma a vertente regionalista da literatura de modo crítico.

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Por fim, a sugestão é o Contos completos de Lima Barreto, ilustrado por Jeff Fischer. A importância de Lima Barreto (1881-1922) na literatura brasileira tem sido objeto de sucessivas reavaliações. A oralidade despojada de seus textos e o tom memorialista e de crônica jornalística foram duramente criticados por contemporâneos como José Verissimo e, ao mesmo tempo, serviram de atrativo para as vanguardas modernistas. Embora tenha morrido cedo, aos 41 anos, Lima Barreto deixou uma importante produção de romances, crônicas e contos. Com organização, introdução e notas de Lilia Moritz Schwarcz, esta edição reúne os 149 contos do autor, resgatados por meio de pesquisas em manuscritos, edições originais, jornais e revistas da época. Tanto os contos menos conhecidos quanto alguns mais famosos, como “A Nova Califórnia” e “O homem que sabia javanês”, ressaltam o aspecto autobiográfico que, segundo a organizadora, perpassa toda a carreira de Lima Barreto. Testemunha ocular das convulsões políticas e sociais da República Velha, Lima Barreto foi um dos primeiros escritores a assumir sua negritude no Brasil. Ativista simpático ao anarquismo, descendente de escravos e protegido do Visconde de Ouro Preto, inseriu-se no mundo intelectual, mas foi considerado um escritor de segunda categoria. Análises posteriores, como a do professor Antonio Candido, diriam que Lima Barreto é um autor “vivo e penetrante”. E sua inclusão tardia no cânone dos grandes ficcionistas da língua portuguesa seria apenas uma das muitas contradições que caracterizaram sua vida e obra. Ao rever sua produção literária cem anos depois da publicação de Recordações do escrivão Isaías Caminha, seu primeiro romance, o que vemos é o gênio rebelde eternizado pela fúria quixotesca de Policarpo Quaresma e nas manifestações mais livres e reveladoras de seus contos.

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